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Reforma Tributária: tudo que você precisa saber agora - Por Mayara La Porta

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A narrativa oficial é simples e sedutora: deixar a tributação mais justa, reduzir distorções e simplificar a vida de quem produz. No mundo real, o roteiro é bem menos linear. Há várias camadas de regulamentação por vir, períodos de transição, calibragens finas setoriais e muita disputa interpretativa.


Em resumo: a direção é clara, mas o caminho segue incerto. Se você quer navegar esse tabuleiro com pragmatismo, é hora de encarar o tema como projeto estratégico — não como uma troca de alíquota no ERP.



Contexto em português claro


O plano é unificar tributos sobre o consumo, reduzir sobreposições e criar um conjunto de regras mais previsíveis em todo o país. Haverão fases de transição, ajustes periódicos e possivelmente mecanismos seletivos para desestimular certos produtos. A intenção é equidade e padronização; a execução, porém, ainda depende de regulamentações específicas. Isso significa que existem mais perguntas do que respostas definitivas — e, sim, muita discussão pela frente.


Tradução prática: sua empresa precisará revisar cadastros de produtos/serviços, contratos com repasse, formação de preços, sistemas, processos fiscais e governança. Quem fizer o dever de casa mais cedo reduz risco, protege margem e ganha previsibilidade.




O que pode mexer no ponteiro do seu negócio


  • Margem e preço: mudanças na lógica de créditos e incidências podem pressionar ou aliviar margens. Não assuma “barateamento automático”.

  • Competitividade: cadeias com diferentes perfis (serviços intensivos em mão de obra vs. indústria com cadeias longas) podem sentir impactos opostos.

  • Capital de giro: a forma e o timing de apuração/compensação podem afetar o caixa. Simule antes, ajuste depois.

  • Compliance: relatórios, evidências e trilhas de auditoria ganharão peso. A dor não é só fiscal — é operacional.

  • Estratégia comercial: contratos com cláusulas de repasse, reajuste e SLAs terão de ser revisitados para evitar conflito e litígio.




Mitos e realidades


“Vai simplificar tudo.”Vai simplificar alguns pontos, mas outras rotinas vão nascer. Simples não significa trivial.


“Os preços vão cair.”Depende do mix, da cadeia e das regras finais. Em certos casos, o efeito pode ser de pressão de preço.


“Basta atualizar o sistema.”Trocar rótulo não muda arquitetura. Há integrações, novos códigos, regras de crédito e relatórios a configurar. Isso pede projeto.


“É só esperar a poeira baixar.”Esperar pode sair caro. Sem diagnóstico e cenários, você perde time-to-decision e entra em modo reativo.



Armadilhas de decisão que drenam valor


Sem citar rótulos teóricos, aqui vão comportamentos que sabotam a execução:


  • Inércia do “sempre foi assim”: decisões empurradas para “depois” viram acúmulo de risco.


  • Aposta em número único: planejar tudo com uma taxa “provável” aumenta a chance de surpresa. Trabalhe com intervalos.


  • Confirmação seletiva: consumir apenas análises que validam sua tese cega o radar. Monte um comitê com vozes diferentes (compras, vendas, finanças, fiscal).


  • Comparação rasa: copiar o vizinho sem considerar seu perfil de custos e contratos é receita para desalinhamento.


  • Apego a investimentos passados: insistir no sistema legado só porque “custou caro” ignora o custo de oportunidade.




Playbook executivo: do zero à execução


  1. Diagnóstico 360º (baseline)

    • Levante portfólio de produtos/serviços, classificações, benefícios vigentes e regimes.

    • Cruze com dados reais de faturamento, margem, descontos e prazos.

    • Identifique operações com maior risco de impacto.


  2. Cenarização e simulações

    • Construa 3 a 4 cenários com intervalos de parâmetros.

    • Meça impacto em margem, preço, EBITDA e capital de giro.

    • Faça stress tests com variações de crédito, exceções e regras setoriais.


  3. Estratégia de preços e contratos

    • Revise cláusulas de reajuste e repasse.

    • Redesenhe políticas comerciais para absorver oscilações sem guerra de preços.

    • Planeje a comunicação com clientes e fornecedores.


  4. Arquitetura de sistemas (tax tech)

    • Valide se o ERP/engine fiscal comporta novos códigos e relatórios.

    • Mapeie integrações e eventuais refactors.

    • Defina ambiente de testes e plano de cutover com fases.


  5. Governança e compliance

    • Crie um PMO tributário leve, com papéis claros, ritos quinzenais e OKRs.

    • Documente decisões, critérios e evidências para reduzir risco de autuação.

    • Estabeleça matriz de risco (probabilidade x impacto) e trilhas de auditoria.


  6. Capacitação e change management

    • Treine compras, vendas, fiscal e financeiro com playbook vivo.

    • Institua um canal de dúvidas e SLA de respostas para não travar operações.

    • Rode pilotos em unidades/linhas de menor risco antes do go-live amplo.



Indicadores que seu board deve acompanhar


  • Margem por linha de produto/serviço pós-simulação

  • Ciclo de caixa (variação entre cenários)

  • Índice de recuperação de créditos e saldo acumulado

  • Taxa de retrabalho em documentos fiscais

  • Tempo de resposta a clientes sobre reajustes e repasses

  • Backlog de ajustes em sistemas e contratos

  • Exposição a litígios (por tema e por valor potencial)


Relatórios enxutos, atualizados quinzenalmente, dão visibilidade e evitam decisões no escuro.




Impactos por porte e segmento (visão macro)


  • Micro e pequenas: sensibilidade alta a mudanças de fluxo de caixa. Priorize rotinas simples, precificação guiada por dados e apoio contábil próximo.

  • Médias: onde o impacto operacional mais aparece. Precisam de PMO disciplinado, testes de integração e renegociação de contratos.

  • Grandes: complexidade de cadeias longas e múltiplos estados. Exigem cenários setoriais, governança robusta e observatório regulatório.


Por setor, serviços intensivos em mão de obra podem sentir pressão de preço; cadeias industriais com insumos variados podem ter efeitos mistos conforme a profundidade do crédito. O ponto é: faça as contas do seu contexto.



Comunicação que reduz atrito (interno e externo)


  • Narrativa única: alinhe messaging com o time comercial para evitar ruído na ponta.

  • Transparência pragmática: explique o racional de eventuais reajustes com foco em sustentabilidade da operação.

  • Materiais de apoio: FAQs simples, simulações ilustrativas e cronogramas ajudam a educar cliente e fornecedor.




Perguntas que merecem resposta antes do próximo trimestre


  1. Quais linhas do portfólio são mais sensíveis a variação de critérios?

  2. Quais contratos exigem revisão imediata?

  3. O ERP está pronto para novos códigos e relatórios?

  4. Qual o plano de testes (dados, prazos, responsáveis)?

  5. Temos trilhas de evidência para decisões que possam ser questionadas?

  6. O time sabe explicar o racional de ajustes de preço sem entrar em tecnicismo?




Checklist de prontidão (para imprimir e usar)


  •  Baseline de produtos/serviços, clientes e fornecedores mapeado

  •  Cenários de impacto validados pelo financeiro e comercial

  •  Política de preços e cláusulas contratuais atualizadas

  •  Arquitetura de sistemas catalogada e plano de ajustes definido

  •  PMO tributário ativo com ritos e OKRs

  •  Capacitação entregue e canal de suporte rodando

  •  Relatórios executivos quinzenais em produção

  •  Plano de comunicação (interno/externo) aprovado




Ponto de equilíbrio: intenção justa, execução incerta


O objetivo macro é equidade. Ninguém discorda disso. A questão é que o diabo mora nos detalhes: critérios, exceções, transições e como tudo isso conversa com o dia a dia da sua operação. É por isso que o debate seguirá quente e que as regras devem sofrer ajustes até encontrarem um ponto de estabilidade. O que dá para fazer desde já é ganhar tração com dados, cenários, governança e disciplina de execução.




Por que contar com contabilidade especializada (que joga no ataque)


Este não é um momento para soluções genéricas. Uma contabilidade especializada orquestra o todo: traduz o regulatório em decisões executivas, conecta pricing, contratos, sistemas e compliance, e protege a margem com um olhar de gestão de riscos. É ela que evita que a empresa vire um mosaico de remendos e garante time-to-action dentro do cronograma.


Na AACC Contabilidade, atuamos como parceiro de negócios: fazemos o Diagnóstico de Impacto, rodamos cenarização sob medida, redesenhamos processos e governança, apoiamos a evolução de sistemas e preparamos seu time para operar no novo normal com métricas claras e foco em resultado.



Próximo passo


Se o seu objetivo é transformar incerteza em plano de voo, fale com a AACC Contabilidade. Vamos mapear os impactos no seu portfólio, simular cenários, ajustar contratos, preparar sistemas e treinar sua equipe. Agende uma conversa e coloque sua empresa um passo à frente — com pragmatismo, segurança e velocidade de execução.




Sobre a autora


Mayara M. La Porta é Diretora Executiva da AACC Contabilidade e Consultoria, contadora e tributarista com mais de 20 anos de experiência. Pós-graduada em Controladoria, Planejamento Tributário e Gestão Estratégica de Negócios.


 
 
 

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